sexta-feira, 25 de junho de 2010

Sobre Orfeu

Sobre Orfeu
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Se me perguntares
De que cor são teus olhos
Direi apenas que eles são
Duas poças negras que guardam o infinito
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Se me perguntares
De que cor são teus cabelos
Direi apenas que eles são
Mais escuros e belos que o céu de fevereiro
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Se me perguntares
De que cor é a tua pele
Direi apenas que ela é
A reunião de todos os lírios do vale
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E a tua alma
Nunca pergunte sobre ela
A mim, tua pobre serva
Porque não há palavras
Suficientes neste mundo
Para descrevê-la.

quinta-feira, 17 de junho de 2010

Orfeu longínquo

Orfeu longínquo
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Ofélia vai derramar aqui
Através de seus versos,
as lágrimas que, pelo seu rosto,
Não podem escorrer
Porque ela choraria um mar
Poderia alagar o vasto sertão
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E por algo tão efêmero
A distância
Seu Orfeu está longe
Em paragens desconhecidas
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Ofélia está doente
Doente de amar,
falta-lhe o ar
A angústia invade-lhe a alma
Sim, Ofélia padece
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Seu sangue foi roubado
Pelo amor,
esse anjo vampírico,
Que cravou-lhe os dentes
impiedosa e selvagemente
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O amor sangrou-lhe,
Por que o amor é um deus indômito
Um deus incontrolável que bebe sangue
E que exige a seiva rubra da vida
Sempre em seu altar
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Ofélia, acorrentada e prisioneira
Da vassalagem amorosa que lhe assalta
Ela deseja derrubar-se aos pés de Orfeu
Beijar-lhe todo o corpo desnudo
Vasculhar-lhe a alma...
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Ah, Ofélia!
Dama que tem seu amor
Fadado ao fracasso
Ofélia banhada em pétalas de rosas mortas
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Mas sossega-te, ó coração em agonia
Deixa a paz invadir-lhe o âmago
Porque Orfeu volta, nem que seja na última hora
Nem que seja para olhar-te nos ohos no adeus final.

quinta-feira, 10 de junho de 2010

O Monólogo de Ofélia

O Monólogo de Ofélia

As rosas derramam o perfume na Primavera

Tal qual o javali derrama seu sangue ao leão

Tal qual Ofélia derrama suas palavras na poesia

E seu amor a Orfeu

Orfeu, a mais brilhante e distante estrela

do céu em água, repleto de flores, dela

O céu em água, céu em morte de Ofélia

Céu visível unicamente através das flores

Céu das flores, por final

Céu sem amores, afinal

Apenas com Orfeu

Orfeu, com sua alma e seu corpo,

Faz-me sentir ainda mais a capacidade de ser Ofélia

Ofélia menos Orfeu, há paradoxo mais real

Orfeu meu sentimento, razão e loucura

Orfeu, minha prisão e liberdade

Então, apenas vá embora, Orfeu

Toca tua lira longe de mim

E liberta-me, assim, para amar-te.

por Ofélia Imortal